Humorista Léo Lins revela que sofre ameaças de morte por causa de piadas

Humorista Léo Lins revela que sofre ameaças de morte por causa de piadas

Léo Lins é um dos expoentes da nova geração do humor brasileiro. Além de estar em rede nacional de segunda a sexta, onde atua como participante do elenco fixo do programa The Noite com Danilo Gentili no SBT, ele tem rodado o Brasil com o show Bullying Arte, que já esteve em quase todos os estados e coleciona polêmicas, cancelamentos e notas de censura, mas também recordes de público, sessões esgotadas e uma legião de fãs.

O humorista está gravando desde o dia 3 de maio as apresentações de seu show no Rio e agora em São Paulo que resultarão no especial Bullying Arte. Léo Lins concedeu entrevista ao final de uma das sessões no Rio de Janeiro e falou sobre sua trajetória, projetos futuros, polêmicas e revelou que sofreu até ameaças de morte, a ponto de serem usados detectores de metais em um de seus shows durante a entrada do público.

Quando você descobriu que tinha talento para humor? Já era piadista desde criança? Sempre foi o engraçado da turma?

Eu sempre fui o engraçado da turma, sempre gostei de fazer as pessoas rirem, e hoje eu tenho isso como missão, me satisfaz muito fazer as pessoas rirem. E, desde criança, eu sempre gostei de contar piadas, cresci sofrendo bullying e fazendo bullying, e isso sempre foi um meio de me relacionar com o ambiente ao meu redor, uma forma de lidar até mesmo com problemas.

Você costuma fazer piada com todo tipo de situação, até mesmo com tristezas e perdas pessoais. Isso sempre foi assim, foi algo que desenvolveu depois que cresceu? Como você lida com essas coisas?

Desde criança eu sempre fazia piadas pra quebrar a tristeza. Uma frase que eu costumo usar é: ‘o humor é uma agulha que estoura o balão de tristeza’. Se eu vejo alguém triste eu costumo fazer uma piada, aí a pessoa começa a rir mesmo chorando. Tempos atrás eu estive no velório de um amigo da época da faculdade. Naquela época, eu sofri um acidente cuspindo fogo e acabei me queimando. Então no velório eu disse ‘se precisarem cremar ele, é só trazer uma tocha que eu cuspo fogo’. Aí algumas pessoas até dizem ‘poxa, ele tá morto aqui do lado’, mas isso gera um momento inesperado de risada, e quebra um pouco aquele momento de tristeza. Existe uma pesquisa que diz que as pessoas que apreciam humor negro costumam ter uma inteligência mais elevada. Longe de mim querer dizer que sou mais inteligente que alguém por causa do meu tipo de humor, mas baseado no que li e pesquisei o humor e a piada, são formas de você lidar com essas situações delicadas, e assim não dar tanta importância pra essas questões do mundo. São acontecimentos.  Da mesma forma que alguém pode tropeçar, alguém pode ser promovido, alguém pode morrer, pode ter um acidente aéreo… é uma forma de não dar tanta importância pra aquelas situações. Óbvio que ficamos abalados quando perdemos um ente querido, alguém que gostamos muito. Mas, como eu já falei anteriormente, eu fiz piada até mesmo no velório da minha avó e foi uma forma de homenageá-la, uma forma de aliviar o clima, e as pessoas riram! Minha vó estava morta e as pessoas estavam rindo. Desde criança, sempre que passo por algum problema eu procuro fazer piada, é algo que sempre me ajudou a superar.

Sobre a escolha pelo RJ, mais especificamente do Teatro Miguel Falabella. Por que este teatro? Atualmente os artistas tem preferido ir apresentar seus shows na Barra, Gávea e casas de maior renome , mas você preferiu vir para a Zona Norte. Qual o motivo da escolha? É um sentimento de volta às suas origens?

Eu cresci na Zona Norte do Rio de Janeiro. Eu morei no Engenho Novo e morei no Grajaú. Depois fui pra Curitiba e quando voltei ao Rio de Janeiro eu fui morar na Zona Oeste, em Vargem Grande. É um pouco de ‘volta às origens’ sim. Tem a questão da minha família ser daqui, da minha vó não ter conseguido assistir ao último show que fiz aqui no Rio e o fato de eu me identificar muito com o tipo de público da Zona Norte. É um público bem rock 'n roll, que participa mesmo do show. Tem muito significado eu gravar esse especial aqui, até mesmo o fato de me sentir em casa no Teatro Miguel Falabella aonde sempre fui muito bem recebido. O primeiro foi bom ter feito em São Paulo, pois o teatro era próximo da minha casa e então conseguia acompanhar tudo muito de perto. Fiz visitas técnicas e consegui ir algumas vezes antes do show. Aqui é uma logística diferente, mas eu tenho uma equipe em quem confio muito e que me acompanha desde o primeiro DVD. Aqui eu só vi o cenário no dia da gravação. Eu acompanhei o processo de longe, mas eu tenho uma equipe muito competente que conseguiu deixar tudo exatamente como eu queria.

Você já disse que teve piadas cortadas pela produção do programa ou em eventos que participou. Mas você já optou por tirar alguma piada do repertório por sentir que talvez não fosse o momento, ou que seria considerada pesada demais até mesmo para o seu público que já entende o seu estilo de humor?

Se você voltar alguns anos atrás esse meu show atual seria considerado pesado pro meu público. Cinco, seis anos atrás esse show teria várias piadas que poderiam não funcionar. Hoje as pessoas sabem que eu faço esse tipo de humor, sabem que são apenas piadas, entendem que é humor, dão risada desse tipo de piada e vem esperando exatamente isso. O público tem essa expectativa. Se eu fizer um show leve, as pessoas que estão acostumadas podem sair decepcionadas. Então eu tenho que pegar pesado mesmo. Mas não daria pra começar minha carreira assim e eu não recomendo ninguém a começar a carreira na comédia com piadas desse tipo. Eu levei um tempo até conseguir alcançar essa marca, essa ligação com o humor negro. O próximo show eu pretendo que seja ainda mais pesado que esse. O ‘Piadas Secretas’ tem algumas piadas um pouco pesadas, o ‘Bullying Arte’ já é um show mais pesado como um todo. No terceiro, se eu acabar fazendo um show mais leve, as pessoas vão pensar que aconteceu alguma coisa, que eu me arrependi desse tipo de humor, então precisa ser mais pesado. Depois do terceiro, pode até ser que eu faça alguma coisa mais leve, pois chega um momento que você não tem mais pra onde ir (risos). Eu já fiz dois testes para o próximo show, ele está basicamente pronto. Óbvio que ainda vai sofrer vários ajustes da estreia até a gravação, que é a versão final, mas o projeto já está bem encaminhado. Assim que o especial ‘Bullying Arte’ for lançado, eu já começo a viajar com o show novo. Talvez esse ano eu ainda viaje com ele em caráter de teste e faça a estreia oficial no próximo ano, que é ano de eleições pra prefeito, logo um bom ano pra estrear o show novo.

Sobre censura, você já viu isso se tornar algo mais pesado, mais perigoso que só uma tentativa de censura, uma ameaça de internet? Já se sentiu realmente ameaçado por isso?

Eu já procurei me precaver em alguns casos, sem dúvidas. Já tive show com detector de metais na entrada, com policiais fazendo revista. Já tive um show em que teve revista antes e pegaram uns garotos com uma sacola de ovos, que com certeza eram para ser jogados em mim durante o show. Foi uma medida preventiva, que nesse caso deu certo. Acho até que foi uma grande imprudência de quem mandou esses garotos, pois poderia gerar uma grande confusão entre eles e aqueles que estavam ali presentes apenas pra assistir a um show de humor. Vai que acontece uma correria, empurra-empurra, alguém cai no chão, se machuca… Provavelmente foi algum político que mandou esses garotos irem até o show com esses ovos. Por isso eu acabei tomando algumas medidas preventivas em determinadas situações, mais para evitar de acontecer coisas piores. Mas nunca deixei de fazer o que faço, nunca cancelei show por medo dessas situações, até porque eu não sou o Jean Wyllys (risos).

E já precisou mudar sua rotina, ou lugares que frequenta, por causa de ameaças?

Nunca mudei a rotina, mas passei a andar mais atento nos locais que frequento. Uma vez estava indo pra casa e passei por um bloco de carnaval, e algumas pessoas começaram a gritar me chamando de fascista, racista, entre outras coisas. Nesse momento eu achei melhor mudar meu caminho, não por medo de apanhar, mas pra evitar até que uma confusão maior ocorresse se alguém tentasse me defender e aquilo virasse uma briga. Nesse dia eu mudei de rotina pra evitar uma situação. Mas nunca cheguei a mudar completamente meus hábitos e rotinas por medo de ameaças, e espero que nunca precise, pois seria algo muito extremo.

Se você fosse largar o meio do entretenimento por completo, não fosse mais humorista, ator, roteirista, nada ligado ao meio do entretenimento, o que faria hoje?

Uma coisa que me motivou muito, e que ainda me motiva, é a capoeira, é algo que gosto muito, até mesmo de estar em uma roda de capoeira. Sinto falta de não poder treinar e me dedicar tanto quanto antes. Cheguei a dar aulas por um tempo, hoje em dia estou mais afastado, mas eu gosto muito de capoeira e admiro muito as artes marciais em geral. É uma carreira que eu vejo pra mim. Hoje eu tomo pancada de políticos por causa de piadas, uma outra carreira que seguiria seria no octógono tomando pancada dos adversários, lutando MMA. Pancada de político eu acho que tenho mais condições de revidar, não fisicamente, apesar de treinar bastante (risos). Mas o que faria se largasse a vida artística seria algo relacionado a capoeira e artes marciais. MMA eu não conseguiria mais atualmente, teria que ter começado antes, mas com certeza faria algo relacionado a capoeira e artes marciais.

Você já perdeu algum trabalho publicitário por causa do seu estilo de humor, ou algum contratante tentou mudar sua forma de humor, ou controlar o que deveria postar ou falar?

Já aconteceu sim de perder trabalho por causa de alguma piada mais pesada, aí o contratante falou que não ia mais querer continuar. São mais casos isolados. Uma outra vez eu estava fazendo um trabalho publicitário pra uma empresa, aí depois de uma piada que eu fiz, eles tiraram a campanha. Eles disseram que foi por terem recebido mensagens e reclamações, mas depois eu soube que o motivo real é que a pessoa responsável pelo marketing era uma pessoa ligada a esquerda, e achou errada a minha postura, que ia contra as diretrizes e a agenda da esquerda, e eu tive meu contrato cancelado. Eu sei que tem gente idiota na esquerda, na direita, no centro, em todos os cantos, estou citando esse caso por ter acontecido comigo. Teve também uma sondagem que aconteceu, já faz algum tempo, de uma campanha pra Prefeitura do Rio, era algo que circularia no site da Prefeitura, exaltando as benfeitorias que eles estavam fazendo, e eu não quis nem saber qual era o cachê, pois eu não faria, acho até que outro humorista acabou pegando. Imagina hoje em dia, como eu poderia criticar políticos tendo antes feito campanha em favor de algum deles? Quase todos os que passaram pela Prefeitura nos últimos anos estão presos hoje em dia. Se eu tivesse feito a campanha, hoje em dia alguém poderia me dizer ‘você critica o prefeito de tal cidade, mas é só te dar um dinheiro que você faz campanha falando bem’. Então já teve caso de eu perder trabalhos por causa da minha postura, mas também já recusei trabalhos por causa da minha postura.

Além dos palcos e da TV, você possui outros trabalhos em paralelo. Tem alguma previsão de novidades chegando? 

Esse ano tem bastante coisa. Vou lançar o especial ‘Bullying Arte’, vou lançar ‘O Livro dos Insultos’, que inclusive já está sendo rodado, dentro de uns dois meses já deve estar sendo lançado. A ideia é ser a bíblia do insulto, o maior livro dedicado a esse gênero do humor já feito. Tem uma parte teórica e uma parte prática, com mais de três mil piadas. Vou lançar o volume dois e volume três do ‘Whatahell’. Até mudou um pouco o traço, porque estou trabalhando com outro ilustrador, pra poder aumentar a periodicidade da publicação. Além disso vamos gravar a série de ‘Os Exterminadores do Além’, o filme vai expandir e virar uma série. A série tem previsão de lançamento pra 2020, ‘O Livro dos Insultos’ pra daqui a dois meses, ‘Whatahell’ pro final desse ano, e eu tenho um projeto de um filme, um roteiro meu, que é um filme de terror sem comédia. Vai ser um slasher movie. Eu sou muito fã desse gênero, adoro filmes como ‘Sexta Feira 13’, ‘Freddy Krueger’, ‘Halloween’. Então eu escrevi esse roteiro, e se tudo der certo, talvez daqui uns dois anos o filme entre em cartaz.

Quais são as suas maiores inspirações?

Uma pessoa que sem dúvida me inspira é meu avô. Meu avô foi menino de rua, morou em Febem. E ele conseguiu crescer e dar uma infância pro meu pai muito melhor que a dele, eu já tive uma infância melhor ainda, e meu filho terá uma infância melhor que a minha. Então eu me inspiro no meu avô, que saiu das ruas e se tornou Auditor Fiscal do Tesouro Nacional, foi um cara que batalhou muito. Estudou só até a quarta série, mas sempre foi uma pessoa muito autodidata, então é uma grande inspiração pra mim, sem sombra de dúvidas. Na área artística, uma pessoa que eu admiro muito, e que já tive o prazer de entrevistar, é o Sylvester Stallone. Se alguém me dissesse que um dia eu entrevistaria o Stallone, eu não ia acreditar, e foi demais. Ele é um cara que tem uma história incrível. Dizem que ele precisou até vender o cachorro dele, vendeu seu primeiro roteiro por um valor baixo, e só aceitou vender o roteiro de Rocky se ele mesmo pudesse interpretar o personagem. Os filmes dele fazem parte da minha infância, como ‘Rocky’, ‘Rambo’, ‘Falcão’, e ele produz até hoje, escreve filmes, grava, isso eu acho incrível, é um cara que serve de exemplo pra mim.

Como é sua relação com a fama, e como você lida com os diversos tipos de fãs que existem? Já pensou alguma vez em voltar ao anonimato?

Eu vejo que algumas pessoas reclamam da vida de famoso, mas eu acho que existem ônus e bônus, existem benefícios. Às vezes você tá chegando em cima da hora pra pegar um voo, e alguém que te conhece consegue te ajudar a conseguir, algo que você não conseguiria sendo anônimo, precisaria se estressar, às vezes até brigar, então acabam tendo benefícios. É como eu disse, existem os ônus e os bônus, é necessário saber lidar com as duas coisas, tem que saber dar atenção, tratar bem. Uma vez eu estava no banheiro urinando, aí um cara me reconheceu e pediu pra tirar foto comigo, eu disse pra ele esperar um pouco, na hora não dava (risos). Então é algo que nunca me atrapalhou, pelo contrário. Se eu tenho a carreira que eu tenho, foi graças ao meu público. Por mais que alguém possa ter sido indelicado comigo, nunca chegou ao ponto de eu dizer ‘nossa, que saco’. Nunca aconteceu. É um carinho e um reconhecimento do público. Quando eu comecei a fazer stand up eu nunca pensei em ser famoso. Eu comecei a fazer stand-up pra entreter as pessoas. Minha ideia sempre foi fazer o máximo possível de pessoas dar risadas. Já fiz shows pra 10, 15, 30, 50, 100 pessoas, hoje eu consigo fazer pra 1.000, 1.500, 2.000. Se um dia eu fizer pra 10.000 pessoas, melhor ainda, mais pessoas que eu terei conseguido fazer rir. Hoje, com o programa, a gente atinge milhões de pessoas assistindo. Com uma esquete que entra no The Noite, conseguimos fazer milhões de pessoas dar risadas. Ao mesmo tempo tem os shows gravados. Então nunca foi minha intenção ser famoso, tirar fotos, nada disso. Eu sempre quis fazer as pessoas rirem, e tenho conseguido. E eu gosto muito de viajar, é o único hobby que eu tenho. Principalmente lugares exóticos, que quase ninguém escolhe pra viajar. A última viagem que fiz foi pra Albânia, a terra dos bunkers. E nos lugares que vou, nunca encontro nenhum brasileiro, então acabo tendo uma vida de anônimo, posso ir ao mercado, frequentar os lugares sem ser reconhecido. Se você for pra Nova York, Disney, vai acabar encontrando um monte de brasileiros. Mas os lugares que eu vou são lugares exóticos, como Eslovênia, Bratislava e Azerbaijão, então acabo não sendo reconhecido nesses lugares (risos).

Foto: Márcio Azevedo / Cinho Jones Fotografia

Autor / Fonte: Hebert Neri / MF Press Global

Comentários

Leia Também