Um enredo fictício exposto há 45 anos deixa claro o final dos que se sujeitam aos papéis de subalternos do Poder
Porto Velho, RO – A última vez que ouvi falar em jornalista que usou Odorico Paraguaçu como paralelo para retratar fatos sobre personagens reais, a coisa terminou mal, muito mal para o profissional de imprensa em questão.
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Jornalista é condenado por comparar prefeito do RN ao personagem Odorico Paraguaçu
Mas calma aí!
A ideia aqui não é comparar o governador eleito Marcos Rocha (PSL) ao notável e inesquecível prefeito de Sucupira, retratado em O Bem-Amado (1973) pelo maravilhoso e saudosíssimo ator Paulo Gracindo.
A exceção, eu diria, seria um elo alusivo entre a promessa de um estafe ilibado aventada reiteradamente pelo primeiro com a garantia insidiosa de Paraguaçu acerca da inauguração de um cemitério para sua cidade fictícia.
Aliás, no caso de Rocha, se for pra cotejar – já que o mandato nem iniciou ainda – tirando exclusivamente o que foi dito em campanha e levando em conta do outro lado a execução na prática desde já, a exemplo da lista pouco imaculada com os nomes da equipe de transição, pode-se chegar à conclusão que o militar está muito mais para Gracindo e sua verve teatral.
Porém, as balizas interessantes a este artigo de opinião têm a ver com outros personagens daquela que talvez seja a melhor e mais crítica novela de todos os tempos: Dirceu Borboleta, vivido pelo também talentosíssimo Emiliano Queiroz, e, claro, as Irmãs Cajazeiras, emuladas por Ida Gomes, Dorinha Duval e Dirce Migliaccio.
Cena de Dirceu Borboleta e Odorico Paraguaçu em "O Bem-Amado" / Reprodução
Esses componentes artísticos somados criam perspectivas siamesas à realidade de Rondônia quando levamos em conta o afã por espaços na Administração Pública fora das hostes concursais e o que é preciso fazer para manter um lugarzinho sob os raios de sol no Palácio Rio Madeira.
O desajeitado, ingênuo e tímido Borboleta, secretário do prefeito, representa a subserviência oblíqua e o temor descabido advindo de um figura de autoridade inconteste, enquanto o trio de beatas e seu rodízio de mimos ao chefe do Executivo estampam o tom servil, meloso e oligofrênico dos cabos eleitorais que buscam espaço no coração de seus chefes.
“Ó, Coroooonel. Eu juro, Coronel. Eu juro! Eu não tive culpa de nada!”
– Dirceu Borboleta
E tanto lá quanto cá, o que recebem de volta é desprezo, desrespeito e ingratidão.
Aqui no Planeta Pés-no-Chão fica o conselho aos apaixonados e fascinados de plantão: não sejam os ‘‘Dirceu Borboleta’’ nem as Irmãs Cajazeiras do Coronel Marcos Rocha.
Autor / Fonte: Vinicius Canova
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