Por Vinicius Canova
Publicada em 20/08/2019 às 16h16
Porto Velho, RO – Antes de qualquer coisa, é preciso deixar claro que todos os membros do PSL se consideram amigos e próximos ao presidente da República Jair Bolsonaro. Dito isso, até para que os mencionados não sintam ódio deste colunista – e eu certamente não quero mexer com o brio dos conservadores –, passemos às considerações sobre 2020.
Há uma certa sensação de déjà vu para quem vê de fora o espectro interno da legenda liberal. E forçando um pouco a mente é possível buscar lá atrás, ainda em 2018, os porquês do apartamento entre os grupos encabeçados, de um lado, pelo governador Marcos Rocha (PSL), e através da liderança do deputado federal Coronel Chrisóstomo, do outro.
A ruptura fora iniciada pelo eleitoralmente performático Jaime Bagattoli, que, e isto é inegável, apresentou fervoroso cartão de visitas ao ficar em 3º lugar na corrida pelo Senado Federal numa disputa com outros doze concorrentes. Por pouco, pouquíssimo, aliás, Confúcio Moura (MDB) não ficou de fora do Congresso Nacional. De qualquer maneira, bola na trave não é gol – e é preciso ilustrar assim a despeito da minha repulsa por metáforas futebolísticas.
Porém, Bagattoli, pecuarista referendado no Cone Sul rondoniense, ou seja, empresário de sucesso, logo investidor de mão cheia, aplicou nada mais nada menos do que R$ 2,8 milhões de todo o seu patrimônio declarado em 29 candidaturas do PSL nas eleições de 2018 – incluindo a própria postulação.
O jornal Rondônia Dinâmica abordou o assunto em janeiro de 2019.
De suas aplicações de risco, três renderam frutos: as eleições de Marcos Rocha ao comando do Palácio Rio Madeira; de Coronel Chrisóstomo a assento na Câmara Federal, e a do Sargento Eyder Brasil às hostes da Assembleia Legislativa (ALE/RO).
E o novato de Vilhena chegou a criar fissuras com Rocha ainda durante as eleições quando, indignado com o colega, convocou a imprensa e fez uma espécie de workshop – com direito a apresentação em PowerPoint –, demonstrando a relação do parceiro de sigla com os caciques do MDB regional.
Eles fizeram as pazes quando Jaime gravou um vídeo alegando ter sido enganado por notícias falsas.
Ocorre que o mandatário do Executivo se sagrou vencedor na corrida eleitoral e, pelo que parece, fechou as portas do governo para Chrisóstomo e a Bagatolli; com isso, novos sulcos foram gerados no relacionamento entre os grupos internos da legenda liberal.
O próprio Coronel Chrisóstomo, amigo do empresário vilhenense, alega publicamente que quer cargos no partido em Rondônia, e, no estado, o PSL é presidido por Marcos Rocha: o recado, embora velado, foi endereçado ao governador. Há muita mágoa acumulada e mal resolvida entre ambos.
Agora, com o evento de filiação do último sábado (17) ocorrido em todo o Brasil, tornou-se nítido o derretimento da relação entre as autoridades do partido em Rondônia nas imagens veiculadas por ora.
De um lado, Eyder Brasil, o parceiro de Marcos Rocha, fez discursos inflamados com a intenção de capitanear mais adeptos; do outro, Chrisóstomo, que se considera amigo de Bolsonaro e faz disso bandeira de atuação, tenta o mesmo por caminhos geográficos distintos.
Não há consonância. E a ruptura é clara. Soa ao espectador que a meta não são mudanças nem aplicação daquilo que o PSL chama de “nova política”.
E essa briga narcisista de egos inflados precisa terminar a fim de que a legenda sobreviva às convenções. Aliás, qualquer figura pública que se preze deve entender que, passada a ser conhecida e reconhecida pela atuação – tanto por dois quanto por quatro anos –, a mera vinculação da imagem de si com fotos do atual presidente não vai mais colar.
Portanto, um investidor como Bagatolli não faria mal à agremiação: mas o conselho só vai servir se os envolvidos na briguinha passarem a conceber que o reflexo no espelho não é insumo político.