Publicada em 26/08/2023 às 11h15
O chamado “Corredor da Morte”, trecho da BR 364 em Rondônia, com cerca de 700 quilômetros de Porto Velho a Vilhena, na divisa com o Mato Grosso continua matando. Após a visita do ministro dos Transportes, Renan Filho no início deste mês, quando foi anunciada a duplicação de um trecho de dois quilômetros em Itapuã do Oeste, não da 364, inúmeros acidentes já ocorreram com vários óbitos, inclusive esta semana, quando dois caminhões se chocaram às imediações de Jaru, e um dos motoristas morreu agonizando, clamando por socorro, e, devido ao fogo, nada pode ser feito. Cena das mais chocantes.
Na visita do ministro Renan foi liberada a Ordem de Serviço (OS), para duplicação de dois quilômetros em Itapuã do Oeste, local que já era duplicado, mas estava tomado pelos buracos, pois o asfalto desapareceu, devido ao enorme fluxo de veículos, que em períodos de safras de grãos (soja, milho, café) é em torno de 2,5 mil veículos pesados/dia, além dos carros de passeio. A 364 não tem suporte técnico e logístico para atender uma demanda tão grande de veículos, porque é uma rodovia construída na década de 80, quando de vez em quando se cruzava com veículos na ligação Porto Velho a Vilhena. Muito diferente da realidade dos tempos modernos de hoje, onde carretas, bitrens e treminhões tomam conta das rodovias do País, não somente na 364 em Rondônia.
Na passagem do ministro em Rondônia, também foi anunciada, além da duplicação do trecho em Itapuã do Oeste, a liberação para início do projeto de cerca de 500 quilômetros 364 entre Jaru e Vilhena. Houve muito oba-oba de políticos, principalmente, pronunciamentos, que estava sendo liberada a duplicação. Ledo engano foi somente o projeto.
É importante explicar, que um projeto desse porte não fica pronto antes de um ano, ou seja, não será concluído este ano, por isso não terá condições de a duplicação entrar no Orçamento da União para 2024. Com o projeto em mãos no próximo ano, serão destinados recursos para 2025, quando poderá ter início a obra de duplicação, caso seja aprovada.
Rondônia está hoje, entre os cinco maiores produtores de carne para exportação do País. Até 2022, Rondônia estava entre os 14 maiores produtores de soja do Brasil. A cada ano a área de plantio aumenta e a perspectiva, devido ao clima, sempre quente é que nos próximos anos esteja entre os dez primeiros colocados,
Rondônia também tem a facilidade de o porto graneleiro de Porto Velho, no rio Madeira, que exporta a maior parte da soja e do milho produzidos no Estado, e de boa parte das safras do Mato Grosso. A exportação só não é maior, justamente em razão da precariedade da BR 364, principal rodovia federal no Estado, que não acompanhou a evolução econômica, social e política de Rondônia.
É importante reconhecer, que a representatividade federal de Rondônia no Congresso Nacional, em se tratando de Câmara Federal é ínfima, pois temos somente oito deputados. O Paraná, por exemplo, tem trinta.
Se a discrepância é enorme na Câmara Federal, o mesmo não ocorre no Senado, onde cada Estado e o Distrito Federal tem três representantes, cada um. Se não há condições de “brigar” por ações no Legislativo Federal, no Senado, todos são iguais,
Política, dentre outras coisas é a arte de somar. Por que os políticos do Norte (senadores e deputados federais, governadores) não juntam forças para reivindicar junto ao Governo Federal? O Estados da Amazônia Legal, Amazonas, Acre, Amapá, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Pará, Maranhão e Tocantins, que há vinte anos formaram o Parlamento Amazônica poderiam utilizar melhor a instituição para poder fazer valer suas reivindicações na esfera federal. Mas são muitos os encontros regionais, porém com poucos resultados práticos.
Nossos três senadores, Confúcio Moura (MDB), Jaime Bagattoli (PL) e Marcos Rogério (PL), muito bem analisados em recente Editorial do RONDONIA DINÂMICA com o título “Com dois senadores ideológicos e um passivo, povo de Rondônia sofre isolado com o caos aéreo e ausência de ações práticas”, abordando a decisão das companhias áreas Azul, Gol e Latan em cortar voos em Rondônia. A passividade, a tolerância, ou mesmo omissão, não justificam os mandatos delegados pelo eleitor na expectativa da defesa dos interesses da maioria da população. Falam muito, mas pouco fazem. Cabe até uma frase de o pensador Reviane Bernardo: “uma coisa já sabíamos, e a pandemia confirmou, as pessoas que mais falam geralmente são as que menos sabem”.
Nossas lideranças políticas em nível federal devem se conscientizarem que Rondônia é um Estado com pouco mais de 40 anos de emancipação política, de clima privilegiado, com um porto em condições de exportar sua produção agropecuária a custos baixos, além de crescer rapidamente na piscicultura. O Estado precisa de ações políticas emergentes, mas eficientes, uma delas, a duplicação-já, da BR 364 na ligação Porto Velho a Vilhena, não somente de dois quilômetros em Itapuã do Oeste, além de aviação comercial comprometida com os interesses sociais, econômicos e políticos da região.
A precariedade da 364, com óbitos constantes, a ousadia da Azul, onde um representante disse aos deputados estaduais em audiência pública, que o retorno dos voos dependia da redução das ações judiciais, como se a Justiça fosse a responsável pela incompetência da empresa em não cumprir com suas obrigações, caso contrário, não teríamos judicialização.
E o que mais intriga. A direção da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) disse que o assunto não era de alçada da empresa.