Publicada em 04/11/2024 às 11h43
Porto Velho, RO – Em recente discurso na Tribuna do Senado, o senador Jaime Bagattoli (PL-RO) fez um chamado firme e incisivo por um posicionamento mais contundente do próximo presidente da Casa frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em sua declaração, ele enfatizou a necessidade de “garantir o equilíbrio entre os poderes e não aceitar mais a interferência de um poder sobre o outro”. As palavras ecoaram pelo plenário como um desafio à próxima liderança do Senado: “Que o próximo presidente desta Casa tenha coragem de pautar a vontade do povo que já não aguenta mais tantos demandos”, declarou Bagattoli.
A postura audaciosa, contudo, traz à tona uma contradição marcante em sua carreira política. Se agora Bagattoli cobra “coragem” para enfrentar um poder da República, a realidade de seu histórico recente aponta para outra direção. Em novembro do ano passado, o senador protagonizou um momento de vulnerabilidade ao admitir publicamente a falta de força para resistir a uma manobra interna de seu próprio partido.
A situação se deu quando Marcos Rogério, também do PL e seu colega de legenda, retomou o controle da direção do partido em Rondônia. Durante um encontro com o ex-presidente Jair Bolsonaro, Bagattoli lamentou ter sido superado politicamente e expressou sua incapacidade de manter-se à frente da liderança regional. “Eu quero dizer a toda a população de Rondônia que eu não tenho forças para fazer”, confessou o senador na ocasião, reconhecendo a limitação de seu poder de articulação política.
A dicotomia entre o discurso exigente e a própria postura nos bastidores levanta questões sobre a consistência de sua atuação. Em um cenário onde se espera que os representantes mantenham a firmeza tanto nas palavras quanto nas ações, a coragem proclamada por Bagattoli ao pedir que o Senado peite o STF parece contrastar com sua própria experiência de derrotas internas.
O contexto da fala de Bagattoli sobre o papel do Senado e os limites de atuação do STF é particularmente relevante em um momento em que as relações entre os poderes enfrentam tensões recorrentes. Referindo-se a temas como o marco temporal e a questão do porte de drogas – ambos considerados por ele como competência exclusiva do Legislativo –, o senador destacou que essas discussões devem ser conduzidas pelo Congresso, e não pela Suprema Corte. “O próximo presidente desta Casa do Senado precisa ter a coragem de pautar os questionamentos do povo sobre o STF e não aceitar que a Corte venha a legislar onde não deve”, reforçou.
O contraste entre a exigência de bravura e a própria experiência de Bagattoli em situações de pressão interna chama a atenção. Enquanto cobra que o próximo presidente do Senado assuma uma postura de enfrentamento com o STF, o senador carrega em seu currículo um episódio em que sucumbiu à pressão dos “caciques” de sua legenda. A questão que fica é: até que ponto essa coragem reivindicada seria, de fato, exercida em seu próprio mandato?
A postura de Bagattoli evidencia uma dualidade que não passa despercebida pelos analistas políticos. O desafio para o próximo presidente do Senado está lançado, mas também fica o questionamento sobre o verdadeiro compromisso do senador com a coragem que tanto preza em seu discurso.