
Publicada em 05/04/2025 às 09h45
A fórmula matemática usada pelo governo dos Estados Unidos para calcular as “tarifas recíprocas” sobre as importações tem gerado críticas ao redor do mundo.
De um lado, o presidente americano Donald Trump afirma que os valores foram calculados a partir das taxas que outros países já cobram para importar produtos dos EUA, com um piso de 10% (leia mais abaixo sobre a taxa mínima).
“Vamos calcular a taxa combinada de todas as suas tarifas, barreiras não monetárias e outras formas de trapaça. [...] Cobraremos deles aproximadamente metade do que eles têm cobrado de nós”, disse Trump.
No entanto, economistas alegam que, na prática, a fórmula divulgada pela Casa Branca não considera a alíquota cobrada pelos países e, sim, o déficit comercial dos EUA em relação a eles (entenda o cálculo abaixo).
🔎 Déficit comercial ocorre quando um país importa mais produtos do que exporta, ou seja, compra mais do que vende, resultando em um saldo financeiro negativo.
Consequentemente, a fórmula afeta mais fortemente algumas das nações mais pobres do mundo, que vendem, mas não podem comprar muito dos EUA, resultando em tarifas recíprocas maiores, destacou a Reuters
Madagascar é um exemplo. Com um produto interno bruto (PIB) per capita de pouco mais de US$ 500, o país enfrentará uma tarifa de 47% sobre os US$ 733 milhões em exportações de baunilha, metais e vestuário para os EUA no ano passado.
"Presumivelmente ninguém está comprando Teslas lá", disse John Denton, chefe da Câmara de Comércio Internacional (ICC), à Reuters, uma referência irônica à improbabilidade de Madagascar conseguir apaziguar Trump comprando produtos americanos de luxo.
Nthabiseng Mphou, uma trabalhadora, desempenha suas funções na fábrica da Quantum Apparel nos arredores de Maseru, capital do Lesoto — Foto: REUTERS/Siphiwe Sibeko
Outro país afetado é Lesoto, na África Austral, que Trump descreveu em março como um país "do qual ninguém nunca ouviu falar". Uma das nações mais pobres do mundo, tem um PIB de pouco mais de US$ 2 bilhões e recebeu a maior taxa da lista de Trump.
Lesoto tem um grande superávit comercial com os Estados Unidos, composto por diamantes e tecidos, incluindo jeans Levi's. Em 2024, suas exportações para os EUA totalizaram US$ 237 milhões, representando mais de 10% do seu PIB.
"A tarifa recíproca de 50% introduzida pelo governo dos EUA vai acabar com o setor têxtil e de vestuário no Lesoto", disse Thabo Qhesi, analista econômico independente de Maseru, à Reuters.
Para Denton, o tarifaço de Trump “corre o risco de prejudicar ainda mais as perspectivas de desenvolvimento de países que já enfrentam uma piora nos termos de troca".
