O presidente Jair Bolsonaro retirou nesta sexta-feira (5) a Ordem Nacional do Mérito Científico concedida nesta quinta (4) ao pesquisador Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda. A decisão foi publicada no "Diário Oficial da União".
A ordem foi criada em 1993 para "condecorar personalidades nacionais e estrangeiras que se distinguiram por suas relevantes contribuições prestadas à Ciência, à Tecnologia e à Inovação."
Pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda coordenou o estudo no Amazonas que concluiu de forma contrária ao uso da cloroquina para a Covid-19. Lacerda também se manifestou abertamente contra o uso do medicamento e foi vítima de ameaças.
Bolsonaro costuma defender o uso da cloroquina contra a Covid, mas estudos científicos já comprovaram a ineficácia do medicamento para a doença.
Além disso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) também já reconheceu a ineficácia da cloroquina; a Associação Médica Brasileira (AMB) diz que o uso do medicamento para Covid deve ser banido; e a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), que a cloroquina não tem efeito para a doença.
No ano passado, especialistas de diversas universidades brasileiras, entre eles Lacerda, chegaram a divulgar uma nota na qual afirmaram que o governo federal não pode submeter a população ao "risco adicional de um tratamento sem garantias de segurança e eficácia".
No mês passado, a CPI da Covid no Senado aprovou o relatório final. Entre outro pontos, a comissão concluiu que o governo fez — e segue fazendo — propaganda de medicamentos ineficazes para a Covid.
Epidemiologista recusa condecoração
Segundo a Associação Brasileira de Saúde Coletiva, o epidemiologista Cesar Victora rejeitou a condecoração dada por Bolsonaro.
Em carta publicada pela associação, Victora afirma que a condecoração, embora represente "importante reconhecimento", foi concedida por um governo que "não apenas ignora, mas ativamente boicota as recomendações da epidemiologia e da saúde coletiva".
"Enquanto cientista, não consigo compactuar com a forma pela qual o negacionismo em geral, as perseguições a colegas cientistas e em especial os recentes cortes nos orçamentos federais para a ciência têm sido utilizados como ferramentas para retroceder os importantes progressos alcançados pela comunidade científica brasileira nas últimas décadas", escreveu Victora na carta divulgada pela associação.