Publicada em 16/10/2023 às 14h26
A Prefeitura de Porto Velho, através da Secretaria Municipal de Saúde (Semusa), iniciou a qualificação dos profissionais para o acolhimento à população LGBTQIAPN+ que acessa as unidades básicas de saúde e a rede especializada do município. O ‘Projeto Acolher’ é desenvolvido em parceria com a Associação Beradeiro e foi criado para instruir os servidores da saúde no acolhimento à população em condições de vulnerabilidade, com ações para evitar o preconceito e a discriminação.
O nivelamento dos servidores de saúde é feito por um grupo de 45 pessoas, entre profissionais das áreas de psicologia, enfermagem e medicina, que têm alguma vivência, atuação ou desenvolvem estudos e pesquisas na temática LGBQTIAPN+. A formação é baseada na Política Nacional de Atenção à Saúde Integral LGBT+ do Ministério da Saúde (MS), e engloba, principalmente, as terminologias da comunidade como as diferenças entre identidade de gênero, orientação sexual e nome social.
Marcuce Antônio Miranda, presidente da Associação Beradeiro, explica que o projeto atua desde o letramento na área da saúde voltado para o público LGBTQIAPN+, e vai ser desenvolvido presencialmente dentro das unidades do município, para ampliar o acesso às ações e serviços de saúde direcionadas a toda essa população específica.
“O Projeto Acolher é voltado para a implementação da política de saúde integral da população LGBTQIAPN+ em Porto Velho. Nós fizemos três oficinas niveladoras com a equipe que vai conduzir, e agora estamos capacitando os profissionais que atuam nas unidades de saúde do município. A nossa primeira proposta é entrar nas unidades de saúde para desenvolver rodas de conversa e formação dos profissionais, depois vamos fazer o acompanhamento para desenvolver a aplicação dessa implementação da política de acesso, criando estratégias, agendas e ações voltadas para a população LGBTQIAPN+”, destacou.
Para observar a necessidade da população LGBTQIAPN+ e garantir que os direitos sexuais e reprodutivos sejam assegurados, o Projeto Acolher propõe alguns pilares, como um levantamento na área de cobertura das equipes de saúde que atuam em Porto Velho. Esse mapeamento visa identificar quais as principais necessidades dos usuários na rede municipal de saúde.
“Nesse projeto, nós temos algumas linhas de ações mais efetivas. A primeira é o inquérito, que é um levantamento no território das equipes das pessoas que se autodenomina integrantes do grupo LGBTQIAPN+. A partir desse levantamento, o próprio usuário vai dizer quais são os principais serviços que ele acredita ter e precisar. Porque a gente parte também da lógica de que imunização, consultas médicas, de enfermagem, são serviços para todo mundo, inclusive para essa população. Mas é possível que na visão deles tenha um serviço específico que eles queiram. Então, o inquérito é o primeiro diagnóstico para a inclusão, porque vai ser a partir do olhar dessas populações do território que a gente vai começar a montar nossas estratégias”.
A psicóloga Dariangley Pereira, que atende no Serviço de Atendimento Especializado (SAE), é uma das profissionais que já participou da capacitação, e destacou que o Projeto Acolher contribui, principalmente, para que os profissionais da rede municipal de saúde sejam capazes de usar uma linguagem inclusiva e respeitosa, evitando estigmatização ou discriminação involuntária.
“Esse curso está sendo muito válido para todos nós da equipe multiprofissional do SAE, mesmo porque é uma das queixas dos usuários. A questão do acolhimento está sendo fundamental, porque as siglas, por exemplo, são ampliadas e precisamos nos atualizar. Muitas vezes temos dúvidas como chamar, de qual artigo usar, e, para ressignificar isso, precisamos de contato, de vivência e estudar os conceitos, ter essa teoria, essa bagagem, para que a gente tenha um cuidado maior de ouvir mais e entender, para poder, assim, oferecer mais qualidade no nosso atendimento".
Para a secretária-adjunta de Saúde, Marilene Penati, a capacitação profissional dos servidores da saúde desempenha um papel crucial na garantia de um atendimento adequado e inclusivo à população LGBTQIAPN+. Primeiramente, porque essa população enfrenta desafios de saúde específicos, como maior prevalência de doenças mentais, riscos de infecções sexualmente transmissíveis e questões de saúde relacionadas à identidade de gênero e orientação sexual.
“Profissionais capacitados estão mais aptos a reconhecer essas necessidades específicas, oferecendo tratamentos e apoio adequados, e estão mais propensos a criar ambientes acolhedores e seguros, onde os pacientes se sintam à vontade para compartilhar informações cruciais sobre sua saúde A capacitação não apenas melhora a competência clínica, mas também contribui para a criação de ambientes de cuidados mais inclusivos, onde todos os indivíduos possam receber tratamento com respeito e dignidade”, destacou.