Publicada em 06/12/2024 às 11h16
Porto Velho, RO – Em meio a um cenário político cada vez mais polarizado, o senador Confúcio Moura (MDB), de Rondônia, destaca-se como o único representante do estado alinhado à base do governo Lula. Esse posicionamento o colocou em rota de colisão com figuras importantes de seu partido e o distanciou da maioria conservadora do estado, desencadeando um período de isolamento político que ele mesmo reconhece como desafiador.
Recentemente, Moura publicou uma carta aberta intitulada "Antes de tudo, o ser humano", onde reflete sobre sua trajetória política e aborda as críticas que vem recebendo. "Fui enquadrado como ‘esquerdista’ como se isso fosse um crime", escreveu o senador, lamentando os rótulos ideológicos impostos por adversários e até por antigos aliados. No texto, ele reafirma seu compromisso com uma política voltada às pessoas, destacando que suas prioridades sempre foram direitos, justiça social e sustentabilidade ambiental.
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Senador de Rondônia diz que é tachado de esquerdista 'como se isso fosse um crime'
O alinhamento de Moura à base de Lula gerou um efeito cascata dentro do MDB de Rondônia. Nomes como o ex-senador Valdir Raupp e o deputado federal Lúcio Mosquini, que presidia a sigla no estado, deixaram o partido, alegando incompatibilidades ideológicas. O senador, no entanto, mantém-se firme em sua decisão de apoiar o governo federal. O colunista Herbert Lins chegou a aventar também a saída dos deputados estaduais Jean de Oliveira, Luiz do Hospital e Ismael Crispin.
A ruptura reflete uma transformação no MDB local, tradicionalmente mais próximo de pautas conservadoras e pragmáticas. Moura, por sua vez, sustenta que sua posição não representa uma mudança de ideologia, mas sim uma continuidade de seus princípios. "Nunca quis ser rotulado de esquerda ou direita. Sempre quis ser humanista, ter o ser humano como prioridade na minha agenda política", escreveu.
Apesar de seu histórico de alianças com partidos de diferentes espectros, incluindo PDT, PSB e PCdoB, Moura enfrenta críticas por sua proximidade com o PT em um estado onde o conservadorismo prevalece.
A trajetória política do senador, marcada por dois mandatos como governador de Rondônia e uma eleição ao Senado, é amplamente reconhecida por sua habilidade em transitar entre diferentes correntes ideológicas. No entanto, o atual cenário político rondoniense, com dois senadores bolsonaristas – Jaime Bagattoli e Marcos Rogério –, destaca o isolamento de Moura no tabuleiro local.
Especialistas questionam se o senador conseguirá capitalizar politicamente sua posição de aliado de Lula em Rondônia. O estado, majoritariamente alinhado à direita, apresenta desafios para Moura, caso decida disputar a reeleição ao Senado ou um retorno ao governo estadual.
Moura, por sua vez, defende sua coerência. "Não mudei um milímetro nas minhas convicções com a polarização, nem a forma como sempre fiz política buscando resultados", escreveu na carta. Ele enfatiza que sua atuação sempre esteve focada no ser humano e na natureza, acima de divisões ideológicas.
Enquanto Moura reflete sobre as consequências de sua escolha, o cenário político de Rondônia segue marcado pela predominância conservadora. A debandada de aliados e a resistência do eleitorado local a pautas progressistas colocam em xeque a viabilidade de sua estratégia.
Ainda assim, o senador acredita que sua postura humanista pode trazer resultados. "A boa política e a democracia exigem respeito aos contraditórios, à divergência e à negativa", destacou. Essa visão, no entanto, será testada nas urnas, à medida que o cenário eleitoral de 2026 se aproxima.
A decisão de Moura de se alinhar ao governo Lula também levanta questões sobre o futuro do MDB em Rondônia. Com a saída de figuras influentes e a polarização exacerbada, o partido enfrenta um reposicionamento complexo no estado.
O isolamento de Confúcio Moura, embora desafiador, representa também uma tentativa de manter viva a pluralidade ideológica em Rondônia, um estado onde as vozes progressistas são raras. O futuro político do senador dependerá de sua capacidade de equilibrar sua base histórica com sua atual posição ideológica, em um contexto marcado por mudanças e incertezas.