
Publicada em 25/02/2025 às 16h05
Quatro artistas amazônidas, entre elas uma estudante e três egressas de Artes Visuais da UNIR, viajaram de Porto Velho a Uberlândia (MG) para participar da abertura da exposição “Mundo Meio Meu”, que ocorreu no dia 7 de fevereiro e fica em cartaz até 31 de março no Museu Universitário de Arte de Uberlândia (MUnA-UFU).
As egressas da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) Andréa Melo, Camila Sá e Maria Silper e a acadêmica Gui Ocampo foram convidadas para compor com suas obras visuais a exposição que discute o contexto urbano do lugar onde vieram. Os projetos são resultantes de pesquisas originadas durante a graduação na UNIR ou a partir de técnicas desenvolvidas pelas artistas em disciplinas acadêmicas e também em trabalhos externos.
A mostra propõe uma reflexão sobre a centralidade do eu e a interação com o mundo entre pessoas que se identificam com o gênero feminino. Além das quatro artistas de Rondônia, outras quatro de diferentes localidades do Brasil compõem a “Mundo Meio Meu”: Andressa Boel e Mariza Barbosa, de Minas Gerais, Conchita Silva, da Bahia e Ítala Isis, do Rio de Janeiro.
O projeto expositivo e curadoria foi realizado por Priscila Rampin, professora no Curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), que atuou como docente na mesma área na UNIR até 2023: “A exposição surge das aproximações e conexões entre o que as artistas produzem, centrada na maneira como enxergam o mundo ao redor e em como essa visão é determinada pela identidade de gênero”, diz Rampin. A curadora afirma que o interesse está em como as artistas observam o mundo e produzem seus trabalhos de arte a partir de suas trajetórias no meio que compõem suas individualidades e a coletividade.
Obra de Camila Sá
Camila Sá, artista de Porto Velho que expõe na “Mundo Meio Meu”, afirma que “é de extrema gratificação ter o trabalho artístico reconhecido. São anos de pesquisa que resultaram nesta participação, e resultarão em novos trabalhos. Mesmo que não pareça, há uma grande relação social entre o norte e o sudeste. Nesse sentido, percebo que nessa exposição, um trabalho completa o outro, com artistas de diferentes regiões”. A artista relata que, como coletivo, elas perceberam certa resistência dos espaços de arte de Rondônia para receberem uma exposição como a Mundo Meio Meu, que discute questões políticas e de identidade.
Antes da abertura, as artistas participaram do Workshop coordenado por Priscila Rampin e ministrado pelos estudantes da UFU, Gustavo Zenatti e Leandro Morais, sobre impressão de imagens em diferentes superfícies, como tecido e papel, com óleo de banana - material comumente usado para unhas e cabelos, mas que ganha diferentes utilidades nas artes.
Obra de Andréa Melo
Obras amazônidas em exposição
Andrea Melo vem da dança, da performance, e é professora em Porto Velho. Na Mundo Meio Meu, apresenta a fotoperformance "Corpo-árvore", com imagens impressas em tecido, nas quais ela aparece em meio às árvores e a natureza, confundindo o público com o que é árvore e o que é corpo.
Já Camila Sá traz para a exposição a obra "Feroz, noite drag em Porto Velho", uma série com sete fotografias analógicas de pessoas trans, travestis e artistas drags registradas quando foi convidada para fotografar uma festa. Nas suas pesquisas, a fotografia serve de experimento sobre luzes e as possibilidades na fotografia alternativa.
Obra de Maria Silper
Maria Silper, também da capital rondoniense, traz para a mostra dois trabalhos afetivos sobre as memórias de sua criação, além de produzir sobre a transformação e ressignificação de sua casa após a morte de sua bisavó. As obras apresentadas por Maria são chamadas: "Obrigada por tanto, por tudo, por sempre" e "Casa de Vó".
E a amazônida Gui Ocampo chega ao “Mundo Meio Meu” com a obra Autoretrato. A artista pesquisa sobre a performatividade nas redes sociais e realiza uma performance de longa duração no Instagram, a @_pestebubonica.
Mais mundos e meios em exposição
Obra de Gui Ocampo
De Uberlândia, Andressa Boel traz para a coletiva um Mini-documentário nomeado "Bicicruze: construção coletiva de bicicletas não tradicionais no cerrado mineiro e um objeto escultórico, a BiciTorta". O vídeo registra a criação de bicicletas originais construídas com crianças durante a residência artística Bicicruze, realizada no distrito de Cruzeiro dos Peixotos, em Uberlândia. “Durante quase um ano, Eric, João Gabriel, Erick, João Vitor, Isabela, Luiz Gustavo, Mário, Talisson e eu, imaginamos bicicletas não tradicionais. Desenhamos nossas bicis e refletimos como elas poderiam funcionar, esculpimos e projetamos suas maneiras de usar, ou de estar-a-pedalar”, descreve a artista sobre a obra. A BiciTorta, o objeto artístico “pedalável”, também está em exposição e pode ser experienciada pelo público.
Conchita Silva leva para a “Mundo Meio Meu” a obra "Desde a década de 70, prefiro…", um painel com oito xilogravuras de mulheres que lutam pela terra e pela água no Oeste da Bahia. Junto aos grafismos, é possível ler depoimentos das representadas pela artista: mulheres que são vítimas, mas também são de luta. Os textos refletem sobre conflitos hídricos, territoriais e o sentimento de pertencimento a um chão marcado por injustiças sociais.
Ítala Isis apresenta em “Mundo Meio Meu" bandeiras bordadas com frases e imagens que tensionam e subvertem os sentidos do símbolo nacional, através das mudanças de cores, formas e mensagens. Já Mariza Barbosa apresentará os documentos do processo de criação da experimentação performativa "Está exalando cinza" realizada na cidade de Carmo do Paranaíba (MG), em 2022, após um incêndio que devastou parte da mata localizada próxima ao sítio onde a artista morou até a sua adolescência. Ela traz para o espaço expositivo o vídeo de registro da ação artística, vestígios pós e póstumos coletados durante a realização do trabalho a partir dos documentos do processo.