Por Notícia ao Minuto - Portugal
Publicada em 19/03/2021 às 15h49
A operação policial em diversas províncias do país ocorreu dois dias após a Procuradoria ter desencadeado um processo perante o Supremo Tribunal para a ilegalização do Partido Democrático dos Povos (HDP) por supostas ligações à guerrilha do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
O processo está a desencadear fortes críticas no país e no exterior e foi condenado pela União Europeia (UE) e diversas organizações de direitos humanos.
A primeira ação policial decorreu em Istambul, onde a Procuradoria ordenou a detenção de 15 pessoas supostamente afetas ao PKK, a guerrilha curda ativa no sudeste da Turquia, com maioria de população curda, e que desencadeou uma rebelião armada em 1984.
Segundo a Anadolu, os agentes detiveram dez pessoas, incluindo dirigentes dos ramos locais do HDP em dois distritos da cidade e apreenderam "material digital".
Outras dez pessoas foram presas na capital Ancara, incluindo ex-dirigentes locais do HDP.
Na cidade de Adana (sul), 15 pessoas também foram presas sob a acusação de participação em manifestações ou de difusão de propaganda nas redes sociais, e 14 na vizinha província de Mersin, para além de outras dez na província de Kocaeli, nos arredores de Istambul, incluindo um responsável local do HDP.
Na província de Mus (leste), incluída nas regiões de maioria curda, foi emitida uma ordem de detenção contra 15 pessoas, enquanto outras 14 foram detidas numa operação coordenada a partir de Balikesir, no noroeste do país.
O HDP considera que as detenções dos seus militantes e ativistas e a petição para dissolver o partido são movidas por "procuradores que atual por instruções políticas" provenientes do Governo, desde finais de 2020 controlado pela Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP, islamita e conservador), dirigido pelo Presidente Recep Tayyip Erdogan.
"O Governo do AKP converteu o sistema judicial num instrumento partidário e utiliza-o como instrumento para delinear as suas políticas", denunciou o partido em comunicado.
Na quarta-feira, o procurador público do Tribunal de Cassação, Bekir Sahin, exigiu a extinção do HDP que considera "atuar como uma extensão" do PKK, definido de "terrorista" por Ancara e os seus aliados ocidentais.
Bekir Sahin reclamou ainda a proibição do exercício de funções políticas dirigida a 687 membros do HDP, medida que parece destinada a impedi-los de formar um novo partido político em caso de ilegalização.
Em resposta, o principal partido de esquerda e pró-curdo da Turquia denunciou um "golpe político", acusando o Presidente Erdogan de procurar silenciá-lo antes das próximas e decisivas eleições legislativas e presidenciais de 2023, o ano do centenário da fundação da República do Turquia por Mustafa Kemal "Ataturk".
A partir de 2016, na sequência de um fracassado golpe militar, o poder turco também multiplicou as detenções e destituições de eleitos do HDP, e em novembro desse ano deteve o seu líder Selahattin Demirtas que permanece numa prisão, apesar dos apelos do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos para a sua libertação.
Desde essa data, centenas dos membros do HDP foram presos e dezenas dos seus responsáveis municipais eleitos no sudeste da Turquia substituídos por administradores designados pelo Governo.
Na Turquia, 14 deputados curdos à Grande Assembleia Nacional (parlamento), já foram afastados do seu mandato desde 2016, incluindo Figen Yuksekdag, outra antiga copresidente do HDP.