Publicada em 04/04/2022 às 09h49
O jornalista investigativo russo Ivan Safronov alegou sua inocência nesta segunda-feira (4) e denunciou o "cinismo extremo" da Justiça, no primeiro dia de seu julgamento por alta traição em Moscou, que pode resultar em uma pena de 20 anos de prisão.
Considerado um dos melhores jornalistas da Rússia sobre questões militares, Safronov, de 31 anos, foi preso em julho de 2020, em um contexto de pressões cada vez mais fortes contra a imprensa independente, e que desde a ofensiva do Kremlin na Ucrânia se intensificou ainda mais.
Acusado de "traição de Estado" a favor de uma grande potência estrangeira, Safronov apareceu sorridente nesta segunda-feira no banco dos réus no tribunal de Moscou e fez o símbolo da vitória.
Safronov agradeceu os seus colegas por terem comparecido para cobrir o caso, segundo repórteres da AFP no local. O processo acontece neste mesmo tribunal a portas fechadas.
No Telegram, um advogado especializado no caso, Ivan Pavlov, publicou hoje uma longa carta do jornalista, que nega todas as acusações e diz ser vítima de uma "paródia" da Justiça.
"De fato, recebi de fontes abertas informações relacionadas ao meu campo, o jornalismo militar", escreve Safronov. Mas "criei conteúdo jornalístico que não inclui uma única palavra ou dado recebidos em segredo ou ilegalmente".
Durante a investigação, o jornalista afirma que nunca teve o direito de usar a internet para provar aos investigadores o conteúdo de suas produções. Também afirma que encontrou seus advogados apenas uma vez ao mês e eles não tiveram sequer o direito de levar uma folha de papel para fazer anotações.
"Isso é realmente de um cinismo extremo, ou é um crime contra a justiça, acusar um homem de um crime que pode ser punido com 20 anos de prisão sem oferecer a chance de se defender", denuncia Safronov.
O réu trabalhou para dois jornais russos influentes, Vedomosti e Kommersant. Em 2019, ele foi forçado a se demitir do Kommersant e, em maio de 2020, se tornou conselheiro do diretor da agência espacial russa Roscosmos, Dmitri Rogozin.
Segundo os serviços de segurança russos (FSB), Safronov é suspeito de ter "transmitido segredos de Estado sobre a cooperação militar e técnica, a defesa e a segurança da Rússia" a "um serviço de inteligência de um país da Otan".