
Publicada em 18/02/2025 às 09h30
Porto Velho, RO – O ex-chefe da Casa Civil de Rondônia, Júnior Gonçalves, concedeu sua primeira entrevista após sua exoneração, ocorrida em 10 de fevereiro, no podcast Resenha Política, apresentado pelo jornalista Robson Oliveira e veiculado pelo Rondônia Dinâmica. Durante o bate-papo, Gonçalves abordou temas sensíveis como sua relação com deputados estaduais, conspirações internas no governo, sua saída do cargo e os impactos psicológicos vivenciados ao longo de sua trajetória política.
O mais longevo chefe da Casa Civil de Rondônia
Júnior Gonçalves foi um dos secretários mais longevos da Casa Civil no estado, tendo exercido a função durante os dois mandatos do governador Marcos Rocha (União Brasil). No início da conversa, ele destacou que sua permanência no cargo por tanto tempo se deveu à sua estratégia de aprendizado e construção de alianças dentro da política. “Eu acredito que é ter humildade para aprender, ter ouvido para ouvir e ter uma mente para pensar e honrar as pessoas com a palavra”, declarou.
Ele relembrou suas primeiras reuniões políticas, citando o ex-presidente da Assembleia Legislativa, Laerte Gomes, e os ex-deputados Lebrão e Luizinho Goebel como alguns dos que lhe ensinaram o funcionamento da articulação política. "Na política, só existe palavra. Então, tudo que a gente falar aqui, pensa muito bem, porque o que você vai ter é a palavra para honrar", disse, relembrando o conselho que recebeu logo no início de sua atuação na Casa Civil.
Robson Oliveira conduz a conversa no podcast Resenha Política / Reprodução
A relação com os deputados e os bastidores do governo
Gonçalves negou que tenha adotado práticas políticas tradicionais, como o “toma lá, dá cá”, ao lidar com parlamentares estaduais, mas admitiu que sempre buscou manter uma relação republicana entre o Executivo e o Legislativo. "O governo é participativo. O deputado chega na sua base e o povo cobra dele ações do governo. Então, é legítimo que se faça uma composição para atender necessidades legítimas da população", explicou.
Ao ser questionado sobre quais parlamentares foram mais exigentes em relação às demandas de suas bases, Gonçalves evitou citar nomes. Também negou que tenha tido grandes embates com deputados, afirmando que, no primeiro mandato de Rocha, a base governista era ampla e não havia oposição.
Sobre a acusação de que teria centralizado o governo e blindado o acesso ao governador, ele refutou. “Eu nunca coordenei a agenda do governador. Quem fazia isso era o gabinete executivo. Eu tinha que despachar com a assessoria e receber um retorno”, garantiu.
Conspiração, intrigas e a perda do cargo
Durante a entrevista, Júnior Gonçalves relatou que foi alvo de ataques e conspirações desde sua nomeação em 2019. Ele mencionou um episódio em que prints falsos, simulando diálogos dele com políticos e assessores, foram disseminados para prejudicá-lo. Segundo ele, uma investigação da Polícia Civil confirmou que o material era fabricado e que foi produzido dentro de um escritório de advocacia. “Eram colegas meus advogados, e na época foi me pedido para não entrar com ação”, afirmou.
O ex-secretário mencionou ainda que, ao longo de sua gestão, enfrentou resistências dentro do próprio governo. “Foi um constante fogo amigo. O tempo todo diziam que eu queria mandar no governo, mas o que eu fazia era gestão”, justificou. Ele também negou rumores de que teria sabotado a campanha de reeleição de Marcos Rocha. “Isso era um discurso fabricado para me derrubar”, garantiu.
Sobre sua exoneração, Gonçalves afirmou que já esperava o desfecho devido à pressão interna. “Nos últimos 40 dias, todos os dias saía a informação de que eu seria exonerado. O assédio moral foi diário”, contou.
Júnior Gonçalves falou sobre conspirações contra ele / Reprodução
Impacto emocional e depressão
Outro tema abordado na entrevista foi a saúde mental do ex-secretário. Ele revelou que, após a reeleição de Rocha, entrou em um quadro severo de depressão. “Foram quatro anos de ataques à minha índole e ao meu caráter. Após a campanha, cheguei ao fundo do poço”, relatou.
Segundo ele, foi um momento em que se isolou, passou semanas sem sair de casa e precisou buscar ajuda psicológica. “Comecei a fazer duas horas de terapia por semana e a me reconectar. Isso salvou minha vida”, revelou.
Sexualidade e ataques pessoais
Ao longo dos anos, Júnior Gonçalves também foi alvo de ataques à sua aparência e sexualidade. Durante o podcast, ele relembrou que chegou a ser ridicularizado pelo uso de roupas ajustadas. “Diziam que eu usava calça apertada e não usava meia. Hoje, um monte de gente usa, mas na época me criticavam”, disse.
Ele afirmou que tais ataques o afetaram emocionalmente, mas que hoje lida melhor com a situação. “No começo, isso me incomodava muito, mas aprendi a não dar importância”, concluiu.
A saída e a restrição de entrada no Palácio
Um dos momentos mais polêmicos da entrevista foi quando Gonçalves relatou ter sido impedido de entrar no Palácio Rio Madeira após sua exoneração. Segundo ele, ao retornar para buscar pertences e se despedir, foi barrado por policiais militares. “Fui proibido de entrar. Meu irmão, vice-governador, precisou intervir para que eu pudesse acessar o local”, disse.
O ex-secretário não atribuiu diretamente a ordem ao governador Marcos Rocha, mas mencionou que algumas pessoas no entorno do chefe do Executivo estadual sempre tentaram enfraquecê-lo. “Existem pessoas que não me queriam ali e aproveitaram a oportunidade”, disse.
Ex-chefe da Casa Civil falou sobre sua relação com o governador Coronel Marcos Rocha (União Brasil) / Reprodução
Futuro político e presidência do União Brasil
Atualmente, Júnior Gonçalves segue como presidente estadual do União Brasil, partido ao qual Marcos Rocha é filiado. Ele comentou os rumores de que o governador estaria articulando para retirá-lo da presidência da sigla. “Se eu entender que o melhor para pacificar o processo é entregar o partido, eu entrego. Mas, no momento, não vejo sentido nisso”, afirmou.
Sobre a possibilidade de seu irmão, o vice-governador Sérgio Gonçalves, disputar o governo do estado em 2026, ele foi cauteloso. “Ele é um bom nome, mas essa é uma decisão que ainda será discutida dentro do partido”, pontuou.
Próximo programa
O primeiro podcast seria com o prefeito de Porto Velho Léo Moraes, do Podemos; por questões editoriais, a ordem da veiculação foi substituída. O bate-papo com Moraes irá ao ar na próxima quinta-feira, 20.
A íntegra da entrevista
A entrevista completa de Júnior Gonçalves ao Resenha Política, onde ele detalha todos os assuntos mencionados, pode ser assistida no canal do YouTube do podcast, logo abaixo: