
Publicada em 29/03/2025 às 08h57
Porto Velho, RO – Quando a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por unanimidade, tornar Jair Bolsonaro réu por tentativa de golpe de Estado, a expectativa era de uma resposta imediata, forte e coesa dos parlamentares bolsonaristas, especialmente em estados como Rondônia, onde o ex-presidente sempre teve ampla margem de aprovação. No entanto, ao contrário da onda de solidariedade que marcou os anos de ascensão de Bolsonaro — especialmente em 2018 —, a reação da maioria dos políticos da direita com mandato foi contida, discreta ou simplesmente terceirizada.
RELEMBRE
Políticos de direita em Rondônia reagem após STF tornar Bolsonaro réu por tentativa de golpe
Neste cenário, destaca-se o comportamento do senador Jaime Bagattoli (PL-RO). Embora seja um dos nomes mais diretamente vinculados ao ex-presidente em Rondônia, Bagattoli preferiu não gravar vídeos, escrever textos autorais ou manifestar-se de forma enfática sobre a decisão do STF. Em vez disso, optou por uma saída mais cômoda: repostou nas redes sociais um vídeo de seu colega de partido, o também senador Marcos Rogério, que discursou da tribuna do Senado em defesa de Bolsonaro.
Bagattoli deixou a defesa de Bolsonaro para Marcos Rogério / Reprodução
A postura levanta questionamentos. Por que Bagattoli não falou por conta própria? A cautela é fruto de cálculo político ou um sinal de distanciamento? Ainda assim, o senador segue utilizando a imagem de Bolsonaro como parte de sua identidade política — recentemente, entrou na popular brincadeira de transformar fotos em ilustrações ao estilo Studio Ghibli, incluindo uma em que aparece ao lado do ex-presidente com seu característico chapéu de pecuarista. O gesto, embora simbólico, substitui o posicionamento direto em um momento crítico.
Enquanto isso, figuras ainda bolsonaristas como a deputada estadual Dra. Taíssa (Podemos), o deputado federal Coronel Chrisóstomo (PL), o senador Marcos Rogério (PL) e a vereadora Sofia Andrade (PL) — reagiram com veemência, utilizando expressões como “perseguição”, “julgamento político” e “injustiça histórica”. A presença de Marcos Rogério, aliás, foi a mais destacada entre os parlamentares federais, com declarações públicas e vídeos extensos comparando o Brasil à Venezuela e criticando duramente a denúncia acolhida pela Corte.
Mas a ausência de um movimento coletivo mais robusto de parlamentares federais levanta dúvidas. Onde estão os outros do bolsonarismo de Rondônia? Onde estão os alinhados ideologicamente ao bolsonarismo? O silêncio, neste contexto, ecoa mais do que as palavras ditas.
A decisão do STF, baseada em denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), aponta Bolsonaro e outros sete aliados como participantes de uma trama para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), além de planejar ações violentas contra autoridades e os prédios dos Três Poderes. Apesar disso, apenas uma parte da base aliada resolveu enfrentar publicamente as acusações.
Se comparado ao cenário de 2018, quando ser “bolsonarista” era sinônimo de capital político elevado, a movimentação agora parece tímida. Seria um reflexo do desgaste acumulado? Ou uma tentativa de preservar mandato e viabilidade eleitoral em 2026? Teriam os políticos de Rondônia abandonado o ímpeto combativo que os marcou nas redes sociais e nas urnas? Mais do que isso: ainda vale a pena colar a imagem ao ex-presidente, agora réu na Suprema Corte?
A moderação de muitos, como Bagattoli, pode ser interpretada de diferentes formas: estratégia de sobrevivência política, respeito institucional, ou um indicativo de que o bolsonarismo, embora ainda vivo na base eleitoral, começa a ser administrado com mais cautela no campo institucional.
Ainda assim, o uso simbólico da figura de Bolsonaro permanece. As ilustrações em estilo anime, os resgates de fotos antigas e as referências indiretas demonstram que o nome do ex-presidente continua sendo um ativo político — mas, cada vez mais, tratado com pinças.
Defesa não teve, mas Bagattoli "tranformou" foto com Boslonaro em desenho animado / Reprodução
Num estado onde o bolsonarismo foi hegemônico por anos, o silêncio ou a delegação de falas a terceiros em um dos momentos mais delicados da trajetória do ex-mandatário chama atenção. E, inevitavelmente, abre espaço para uma série de perguntas: a fidelidade dos bolsonaristas com mandato está se esvaindo? Estariam à procura de outro líder ou novo eixo ideológico? Ou apenas esperando o cenário nacional amadurecer antes de se posicionar com mais clareza?
A história do bolsonarismo em Rondônia ainda está longe do fim. Mas os sinais recentes indicam que o tom do discurso pode ter mudado — e, com ele, o grau de comprometimento público dos que, um dia, bradaram seu nome com convicção.
Como o barco com certeza vai afunda com a eminente prisão do “inelegivel” os ratos começam a abandonar o barco buscando garantir a própria sobrevivência…