
Publicada em 05/04/2025 às 09h04
Porto Velho, RO – A política rondoniense entrou precocemente em ebulição. Faltando ainda dezoito meses para as eleições estaduais de 2026, o cenário já é marcado por embates públicos, ataques diretos, troca de acusações e narrativas desenhadas para desestabilizar adversários. Dois episódios recentes, protagonizados por nomes com histórico de confronto, ilustram o que se consolida como o início não declarado da temporada eleitoral: a disputa entre Marcos Rogério (PL) e o governador Marcos Rocha (União Brasil), e a ruidosa relação entre o prefeito de Porto Velho, Léo Moraes (Podemos), e seu antecessor, Hildon Chaves (PSDB).
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A semana política começou com uma publicação do senador Marcos Rogério em 1º de abril, data emblemática pelo simbolismo do “Dia da Mentira”. Em suas redes sociais, o parlamentar atacou diretamente Marcos Rocha, relembrando promessas de campanha supostamente não cumpridas. “Não é com prazer que falo sobre isso, mas com responsabilidade. Fiscalizar e cobrar é parte do meu dever com o povo rondoniense”, declarou Rogério. A resposta do governador foi imediata e pessoal: “É só mais um fraco demonstrando sua fraqueza moral e jogando para outros a sua própria característica”.
O embate não é novo. Em 2022, Rocha derrotou Rogério nas urnas tanto no primeiro quanto no segundo turno. E ainda que o senador tenha reconhecido recentemente os equívocos de sua campanha — “Faltou maturidade, traquejo político, habilidade. Eu errei” — os ataques direcionados indicam reincidência na retórica ofensiva, uma estratégia que se mostrou falha no passado. Em um estado onde o eleitorado conservador valoriza firmeza, mas rejeita o radicalismo, a aposta em discursos beligerantes pode acabar afastando o centro moderado, crucial para a definição do pleito.
Enquanto isso, o ex-prefeito de Porto Velho, Hildon Chaves, também voltou ao centro do debate político. Em entrevista ao podcast Resenha Política, publicada em 1º de abril, ele respondeu a diversas críticas da atual administração municipal, hoje sob o comando de Léo Moraes. O prefeito do Podemos, eleito em 2024 e empossado neste ano, assumiu a chefia do Executivo municipal com um discurso de rompimento com práticas anteriores. Desde então, tanto ele quanto aliados têm atribuído à gestão de Hildon diversos problemas estruturais da capital — de alagamentos a déficits previdenciários.
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Chaves reagiu com firmeza. “É uma irresponsabilidade e uma mentira deslavada se atribuir isso a Hildon Chaves”, disse ao comentar as alagações. Sobre o Instituto de Previdência do Município (IPAM), afirmou: “Eu tripliquei as reservas. Então, caríssimo prefeito Léo Moraes, arregace as mangas e faça a mesma coisa”.
A relação entre os dois está longe de ser recente — tampouco pacífica. Desde as eleições municipais de 2016, quando Léo Moraes disputou contra Hildon pela primeira vez, a tensão se manteve presente, ainda que em diferentes graus e formatos. O atual prefeito, embora ainda possa optar por cumprir integralmente o mandato de quatro anos, já tem aliados cotados para disputar vagas tanto no Legislativo quanto, eventualmente, no Palácio Rio Madeira. Isso torna sua gestão inevitável alvo de fogo cruzado.
O episódio evidencia outro fator que se antecipa à campanha: o uso de desinformação como arma. A simples menção a Confúcio Moura, único senador de Rondônia com alinhamento público ao presidente Lula, tem sido utilizada para colar rótulos nos adversários, explorando o antipetismo ainda latente em parte significativa do eleitorado. A estratégia, embora simplista, revela a aposta na polarização ideológica como recurso para gerar rejeição por associação.
Esse mesmo expediente foi utilizado contra Léo Moraes nas eleições de 2024. À época, mesmo com o apoio explícito de Jair Bolsonaro e Michelle à candidata Mariana Carvalho, o eleitorado de Porto Velho rejeitou o plebiscito ideológico e optou por um discurso mais técnico e pragmático. Moraes saiu vitorioso e abriu espaço para uma nova correlação de forças, tanto no município quanto no estado.
O pano de fundo de todas essas movimentações é claro: a disputa pelo poder em 2026 já começou, mesmo sem cartazes, jingles ou coligações formalizadas. De um lado, Marcos Rogério aposta novamente no confronto direto — contra o mesmo adversário que já o derrotou duas vezes. Do outro, Hildon Chaves tenta resgatar seu legado, desmentir acusações e se posicionar como alternativa, seja ao Senado ou ao governo estadual. E em meio a tudo isso, Léo Moraes, embora recém-eleito, já figura como peça central no tabuleiro, seja pela força da máquina administrativa, seja pelos nomes que poderá influenciar.
O que se observa, portanto, é o adiantamento de um ciclo que deveria se iniciar apenas em 2026. Os discursos, os ataques e as defesas já estão em campo. A guerra, ao menos no plano da retórica, foi declarada.