Por Geovani Berno
Publicada em 17/08/2020 às 14h06
Desde que me conheço por gente ouço falar que os gastos com educação são mal direcionados e que, somado a isso, ainda sofremos com os desvios de recursos que seriam destinados à merenda escolar, por exemplo. Mas, por incrível que possa parecer, os governantes falam, mas não agem para mudar esta realidade.
No Brasil, o gasto médio por estudante na educação primária é de USD 1.566. O gasto médio por estudante na educação primária dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é de USD 6.437. O país gasta 6,5 vezes mais em instituições educacionais por aluno no nível terciário do que no nível primário.
Na educação fundamental, o Brasil paga US$ 3,8 mil (19 mil ao ano, 1,5 mil por mês ao câmbio atual em torno de R$ 5,00) por aluno enquanto a OCDE investe US$ 8,6 mil (43 mil ou 3,6 mil ao mês).
Já o Ministério da Segurança Pública estima que, no sistema penitenciário federal, cada preso custe R$ 4,8 mil. Já nos estabelecimentos estaduais, o custo é menor, de R$ 1,8 mil (dados de 2018). Isso, por mês.
Além destes gastos ínfimos com educação, que eu preferiria chamar de investimentos, serem aquém do necessário, o acesso a uma sala de aula e a uma educação de qualidade ainda são insuficientes. Basta ver as áreas rurais da capital Porto Velho que está sem aulas, ou com sazonalidades, há praticamente 3 anos.
E aliado a tudo isso lembro que nos anos 70 e 80 quando fiz minhas séries iniciais as escolas eram de muro baixo, onde se podia ver a rua e quem passava pela rua podia ver os alunos todos estudando. Mas não é o que se vê hoje em Porto Velho. Nossas escolas se transformaram em prisões. Muros altíssimos, com cerca elétrica, entre outros aparatos de segurança para tentar barrar a violência sofrida pelas nossas escolas com assaltos constantes.
Muitos irão aqui ponderar uma série de temas como a retirada de vigilantes (mas lembro que mesmo com eles os assaltos aconteciam e ainda a bandidagem ficava com a arma para aumentar a violência nas ruas). A questão a ser debatida é que por falta de educação e investimentos sérios e constantes na área se chegou a este ponto.
Talvez se os recursos fossem melhor investidos e geridos com zelo, nossa realidade fosse diferente. É tão bonito quando se visita uma escola em que o diretor a trata como sua casa e ela é bem cuidada, os alunos respeitam sua autoridade e a comunidade escolar participa. E de lá saem cabeças realmente pensantes e críticas.
Mas nossa população sofre com o descaso de muitos e consequentemente com a baixa escolaridade. A inexistência de reflexão e de um pensamento crítico, de pesquisa engessa nossa juventude. Isso reflete diretamente na empregabilidade, na baixa produção, no pouco investimento em novas tecnologias e, é claro, baixos salários, pois um trabalhador pouco especializado e uma indústria fraca, sem tecnologia, gera empregos com baixa remuneração.
Enfim, a discussão é ampla e exige muita reflexão e, com certeza voltarei ao tema em outros momentos. Mas que fique gravado em todos a indignação para que cobremos de nosso próximo prefeito e vereadores os reais investimentos em educação básica de qualidade, com professores qualificados, que pelo menos escrevam corretamente para corretamente ensinar. Desta forma poderemos sonhar com escolas modelos, sem muros de prisão. Ao contrário, voltemos a sonhar com uma escola que seja libertadora.