Publicada em 06/05/2023 às 10h06
A ex-servidora municipal Juciara da Conceição Raimundo, apontada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) como peça-chave no suposto esquema de rachadinha no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), na Câmara Municipal do Rio, leva hoje uma vida simples e tem como principal fonte de renda a venda de quentinhas.
Segundo o relatório do MP-RJ, Juciara teria feito 219 transferências para o chefe de gabinete do filho “zero dois” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Jorge Luiz Fernandes, totalizando R$ 647 mil, em 219 lançamentos.
De acordo com o jornal O Globo, atualmente Juciara aparece como proprietária de uma empresa de fornecimento de quentinhas: a Jucilegal, registrada em setembro de 2021.
Apesar do bom salário na Câmara Municipal e da alta movimentação em sua conta, a ex-servidora vivia, até 2021, segundo vizinhos, em uma casa de tijolo aparente que divide espaço com uma oficina mecânica em Cordovil.
Também de acordo com o jornal, ela acumula dívidas de R$ 15,4 mil.
Juciara é a segunda ex-funcionária que mais fez transferências ao chefe de gabinete Jorge Luiz Fernandes, conhecido como Jorge Sapão. Ela só fica atrás da esposa de Jorge, Regina Célia Sobral Fernandes, responsável pelo envio de R$ 814 mil, em 304 lançamentos.
Mais de R$ 2 milhões
No total, o chefe de gabinete de Carlos recebeu R$ 2,014 milhões em créditos provenientes das contas de servidores nomeados por Carlos, segundo o MP.
A movimentação financeira, obtida pela 3ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada, é um indício consistente de prática criminosa e faz parte da diligência que apura suspeita de rachadinha no gabinete de Carlos na Câmara Municipal.
O material levantado pela equipe do Laboratório de Tecnologia de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro do Ministério Público do Rio mostra ainda que Fernandes usou contas pessoais para pagar despesas de Carlos Bolsonaro. A investigação apura se os pagamentos foram eventuais ou regulares.
No caso de irregularidade, poderá ficar comprovado que o vereador se beneficiou do esquema de corrupção, a partir do desvio de salário dos servidores do gabinete.
Movimentação financeira
O laudo constatou ainda que, entre 2009 e 2018, o chefe de gabinete de Carlos Bolsonaro recebeu créditos também dos seguintes funcionários:
Andrea Cristina da Cruz Martins (R$ 101 mil, em 11 lançamentos)
Regina Célia Sobral Fernandes (R$ 814 mil, 304 lançamentos)
Alexander Florindo Batista Júnior (R$ 212 mil, em 53 lançamentos)
Thiago Medeiros da Silva (R$ 52 mil, em 18 lançamentos)
Norma Rosa Fernandes Freitas (R$ 185 mil, em 83 lançamentos).
A investigação do MP-RJ sobre a prática de rachadinha foi iniciada com base em reportagem publicada pela revista Época, em junho de 2019, revelando que sete parentes de Ana Cristina Valle, ex-esposa do ex-presidente Bolsonaro e madrasta do vereador, foram empregados no gabinete de Carlos, mas não compareciam ao trabalho.