
Publicada em 03/04/2025 às 10h57
Porto Velho, RO – O senador Confúcio Moura (MDB) anunciou que pretende trazer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Rondônia até o mês de maio deste ano. A declaração foi feita durante o episódio de estreia do podcast Põe na Bancada, apresentado pelo ex-prefeito de Porto Velho, Roberto Sobrinho, com coapresentação do advogado Célio Lopes, candidato derrotado nas eleições de 2024 para a Prefeitura da capital rondoniense.
Segundo o parlamentar, a agenda presidencial deve incluir a assinatura da ordem de serviço para a ponte binacional entre Brasil e Bolívia, em Guajará-Mirim. “Até maio ele tem que vir aqui com uma pauta boa”, afirmou. Além da ponte, Confúcio mencionou a entrega de um hospital universitário em Porto Velho, além de ações voltadas à reforma agrária, como parte dos compromissos do governo federal em Rondônia.
Durante a entrevista, que durou cerca de uma hora, o senador abordou diversos temas polêmicos e sensíveis, incluindo a concessão da BR-364, os empréstimos consignados, o acesso desigual ao crédito agrícola, os indicadores de violência entre jovens e seu alinhamento com o governo Lula, mesmo sem ser do PT.
Consignado e endividamento
Confúcio recordou que participou da criação da modalidade de crédito consignado na década de 1990, quando era deputado federal. Mostrou preocupação com o superendividamento, especialmente entre idosos. “Eles pegam aquele dinheiro e acham bom na hora, depois se arrependem”, afirmou. Disse que, enquanto governador de Rondônia, reduziu a margem do consignado para 30%.
Sobre o novo consignado para seletistas, lançado pelo atual governo federal com garantia via FGTS, reconheceu: “O objetivo que o presidente Lula lançou esse programa é jogar dinheiro na economia”. Ao mesmo tempo, mencionou que seria mais eficaz liberar diretamente o fundo de garantia ao trabalhador.
Roberto Sobrinho, que também é servidor público, revelou utilizar consignado e classificou o modelo como “muito ruim”, destacando os prazos longos. No entanto, defendeu a proposta para trabalhadores endividados com juros altos. “Eu prefiro esse empréstimo”, declarou.
Juventude e violência
O programa exibiu dados sobre violência, evasão escolar, desemprego e uso de drogas entre jovens em Rondônia. O senador classificou os números como “muito horrorosos” e reforçou a necessidade de políticas públicas voltadas à juventude. “Estamos eliminando uma população futura”, afirmou. Defendeu ações conjuntas entre União, estados e municípios, além de educação integral, programa iniciado em seu governo com apoio do estado de Pernambuco.
Também destacou a criação, durante sua gestão, da Secretaria da Paz, que firmava convênios com comunidades terapêuticas, e elogiou experiências internacionais como a de Paris e locais como Brasília, com iniciativas de esporte e cultura para jovens.
Concessão da BR-364
Confúcio Moura se declarou favorável à concessão da BR-364, que inclui a implantação de pedágios em sete pontos do trecho rondoniense. “Eu fui lá em São Paulo no dia 27 de fevereiro, eu estava lá, eu fui lá no pregão, fiz um discurso, inclusive, participando desse trabalho”, afirmou. Segundo o senador, a modelagem da concessão foi iniciada no governo Bolsonaro e teve continuidade na atual gestão federal. “O ato já está feito e sacramentado”, disse.
Ainda de acordo com o parlamentar, o trecho entre Presidente Médici e Nova Vida, onde ocorrem 74% dos acidentes fatais da rodovia, será duplicado, totalizando 107 km. Os demais trechos poderão ser duplicados gradativamente. Ele explicou que a cobrança de pedágio ocorrerá apenas após o início das obras, e que as tarifas variam de R$ 13 a R$ 19, a depender da estação.
Confúcio também afirmou que, por meio de articulação da bancada, a praça de pedágio planejada para a região de Candeias do Jamari foi deslocada para um ponto posterior, garantindo que os moradores da cidade não precisem pagar tarifa ao se deslocar até Porto Velho. Ele defendeu os benefícios previstos no contrato, como bases de serviço, sinalização e pontos de descanso para caminhoneiros.
Crédito rural e regularização fundiária
Ao comentar gráficos sobre a distribuição e o acesso ao crédito rural, Confúcio afirmou que 85% das propriedades rurais são pequenas ou médias, mas apenas 15% acessam crédito bancário. “As águas só correm para o mar”, disse, em alusão à concentração dos recursos nos grandes produtores.
O senador explicou que muitos pequenos produtores vivem sem renda, mesmo com terras valorizadas. Defendeu organização produtiva por cadeias específicas, citando como exemplo o modelo de Santa Catarina. Também mencionou dificuldades geradas por falta de titulação e embargos ambientais, e defendeu investimento em georreferenciamento. “Mais de 50 mil propriedades podem ser regularizadas”, garantiu.
Posicionamento político e relação com o governo
Questionado sobre sua posição ideológica, Confúcio respondeu: “Eu sou centro-esquerda”. Disse que tem votado com o governo Lula e afirmou que “nunca votou contra decisões presidenciais”. Citou que já teve vices de partidos de esquerda e de direita. “Eu sou do MDB”, ressaltou.
Afirmou ainda que presidentes atuais têm pouca autoridade sobre o orçamento, e que tanto Lula quanto Bolsonaro “comeram na mão do Congresso”. Criticou a falta de continuidade nas políticas públicas e chamou o fenômeno de “efeito sanfona”.
Família, fé e trajetória pessoal
No primeiro bloco, o senador falou sobre sua vida pessoal. Disse estar casado há 51 anos com Alice, médica aposentada, e que tem duas filhas e três netas. “Minha família nunca participou de campanha nem de governo”, destacou, afirmando nunca ter nomeado parentes em cargos públicos.
Relatou ter iniciado sua carreira política após 16 anos na medicina e que já perdeu eleições, apesar da fama de imbatível. “Disputei dez campanhas e perdi duas para prefeito de Ariquemes”, contou. Revelou também ter usado recursos da esposa para quitar dívidas de campanha: “Ela chorava, brigava, depois dava o dinheiro. Eu dizia que ia pagar. Nunca paguei nada”.
Ao ser perguntado sobre fé, disse ter sido educado na igreja católica, com formação em colégio de freiras e padres. “A crença é necessária como alento, esperança e paz”, afirmou. Destacou ainda que 8% da população se declara ateia, segundo o IBGE, e que o Brasil é fortemente influenciado pelo cristianismo desde a colonização portuguesa.
Expectativas para 2026
No encerramento, ao ser questionado sobre o futuro político, Confúcio disse que a disputa para governador será mais fácil que para o Senado. “Quem quiser ser governador, é agora”, declarou, sem confirmar se será candidato.
Ao longo do episódio, o senador fez referência a diversas figuras e entidades, como o ex-vice-governador Ayrton Gurgacz, o Sistema Gurgacz de Comunicação e o Instituto Federal de Educação de Rondônia, que atua na regularização fundiária. Também citou nominalmente os ex-rivais como Ernandes Amorim, de Ariquemes, e Expedito Júnior, afirmando manter relação cordial com ambos.
O podcast Põe na Bancada será transmitido pela TV Cultura, RedeTV, Rádio Transamérica, Portal Gurgacz e redes sociais. O programa estreou com quatro blocos e abordou temas ligados à política, economia, juventude e desenvolvimento regional.