
Publicada em 04/04/2025 às 11h40
Porto Velho, RO – A anunciada visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Rondônia, prevista para ocorrer até maio, lança luz sobre uma questão que há tempos ronda a política local: como os parlamentares bolsonaristas irão “receber” o mandatário petista em um dos estados mais conservadores do país? A agenda, revelada pelo senador Confúcio Moura (MDB) durante entrevista ao podcast Põe na Bancada, pode se transformar em palco de tensionamento político ou, alternativamente, em uma rara demonstração de civilidade institucional.
Segundo Confúcio, Lula deve participar da assinatura da ordem de serviço da ponte binacional entre Brasil e Bolívia, em Guajará-Mirim, além de entregar um hospital universitário e apresentar medidas voltadas à reforma agrária. Trata-se de compromissos oficiais que, em tese, beneficiam diretamente a população de Rondônia, independentemente de espectros ideológicos. Ainda assim, permanece a dúvida: os adversários políticos do presidente usarão sua presença como trampolim para críticas públicas e reforço de palanques locais ou participarão dos atos com a compostura exigida por seus cargos?
Hoje, a bancada federal de Rondônia é composta majoritariamente por parlamentares alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Apesar de haver apoio pontual às pautas do governo federal em matérias específicas, o discurso predominante segue hostil à gestão petista. Neste contexto, Confúcio Moura é uma exceção: é o único senador do estado a manifestar, de maneira aberta, seu apoio à administração Lula. “Eu sou centro-esquerda. Tenho votado com o governo e nunca votei contra decisões presidenciais”, disse o emedebista durante o programa.
O posicionamento pode ter custo político elevado. Rondônia vem repelindo candidatos de esquerda de forma reiterada nas urnas. Em 2022, Lula perdeu no estado para Bolsonaro com ampla diferença. Nas eleições municipais de 2024, a deputada federal Mariana Carvalho (União Brasil) tentou abraçar essa tendência ancorando-se em figuras nacionais do bolsonarismo: trouxe o ex-presidente, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e diversos arquétipos da direita à capital. Ainda assim, perdeu para Léo Moraes (Podemos), atual prefeito de Porto Velho.
Se o apoio de Bolsonaro já não garante vitória, o de Lula ainda é uma incógnita — ou, para muitos em Rondônia, um risco calculado de desgaste. Confúcio, que já governou o estado por dois mandatos e atualmente cumpre mandato no Senado, ainda não decidiu se tentará uma nova candidatura em 2026. “Quem quiser ser governador, é agora”, comentou no encerramento do podcast, sem confirmar se disputará novamente o cargo. Uma nova campanha com apoio de Lula, no entanto, pode ser um fardo em vez de um trunfo eleitoral.
Por outro lado, a dúvida permanece: colar-se a grandes nomes da política nacional ainda traz dividendos políticos? No caso de Mariana, a aposta no bolsonarismo não foi suficiente para garantir a prefeitura. No de Confúcio, o risco pode ser maior, pois, além de contrariar a maioria da bancada e do eleitorado, se isola ao representar sozinho a base do governo federal no Congresso por Rondônia. Ao mesmo tempo, pode capitalizar esse diferencial se os resultados dos projetos apresentados por Lula forem concretos e benéficos à população.
Enquanto a visita presidencial se aproxima, o cenário político local está em compasso de espera. A oposição prepara discursos — resta saber se os fará nos bastidores ou diante dos holofotes. Já Confúcio, ao apostar na institucionalidade e no pragmatismo, caminha em terreno movediço. O gesto de convidar Lula pode ser lido como coragem política ou suicídio eleitoral, a depender do rumo dos acontecimentos.
Seja como for, a visita do presidente a Rondônia não passará despercebida. Será um teste não apenas para a popularidade de Lula em território hostil, mas também para a habilidade dos líderes locais em conciliar convicções ideológicas com os deveres do cargo. Afinal, em tempos de polarização, ainda é possível fazer política com civilidade?